segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Bacelar conta como saiu do Alerta Total

“Ninguém vai calar minha voz, vou continuar aliado do povo, porque não aceito jogar sujo”
Entrevista - 18/01/2008

Audacioso, fluente com as palavras e dono de um raciocínio rápido, Ricardo Bacelar, de 29 anos, se mostra disposto a investir na carreira política até chegar ao topo. O ex-apresentador do programa Alerta Total, demitido esta semana da TV Cabrália, garante que não se curva a pressões. Por isso, não aceitou abrir mão da sua filiação partidária, apesar das exigências da direção da emissora.Mesmo admitindo estar revoltado pela forma como ocorreu sua demissão, Bacelar acredita que cumpriu sua missão naquela TV.
O então menino, que experimentou soltar a voz pelas ondas do rádio aos 16 anos de idade, na extinta Musical FM, chegou à Cabrália como auxiliar de externa. Depois, passou para a produção, para a edição de imagens, para a redação e apresentou vários programas.Em entrevista à jornalista Celina Santos, Ricardo Bacelar revela detalhes do episódio da demissão, fala sobre seus novos projetos e não descarta nem mesmo uma candidatura a prefeito, caso seu partido (PSB) – e o povo - assim desejarem.
O comunicador esteve no Diário do Sul acompanhado do presidente da Câmara, vereador Edson Dantas, um dos pré-candidatos a prefeito de Itabuna.

Diário do Sul – O Sr. foi demitido da TV Cabrália porque se recusou a se desfiliar do PSB? Como foi essa história?

Ricardo Bacelar – Há mais ou menos um ano, eu já vinha recebendo pressão por parte da direção da emissora, para que não tivesse envolvimento com nenhum político. Ele (o diretor André Luiz Ferreira) foi claro quando pedia que não tivesse envolvimento mesmo, de não conversar, não tratá-los como amigo, como conhecido, enfim, coisa que é difícil para o jornalista que, queira ou não, tem convívio no meio político, até mesmo para buscar notícias. Mas o que me surpreendeu foi que, na última segunda-feira, faltando cinco minutos para iniciar o programa, eu fui chamado à sala do diretor e, de uma forma abusiva, arrogante, ele disse: “Você tem até quarta-feira para entregar na minha mesa a sua carta de desfiliação do PSB, ou você está desligado da empresa”. No momento eu disse para ele que ali estava ferindo um direito meu, garantido na Constituição, e que fora da televisão eu era o Ricardo como outro cidadão qualquer, que tem direito a optar pela Igreja que freqüenta, pelo partido que quer se filiar. E ele ainda assim disse que isso não interessava, que a ordem é essa: Eu teria até quarta-feira para apresentar a carta de desfiliação, se eu quisesse continuar no que ele chama de grupo. Aí eu acredito que envolve partido ligado à empresa, a própria TV Cabrália... Quando eu desci para apresentar o programa, para minha surpresa novamente, eu cheguei no estúdio e já estavam ali diversos membros do PRB (Partido Republicano Brasileiro) de Itabuna e de Ilhéus. Todos estavam naquela forma de pressão, a fim de desestabilizar você como apresentador. O Alerta Total a gente começa a pautar 7h30min, 8 horas da manhã e a gente entrava no estúdio já com o programa pronto. Mas ali eu ainda fui obrigado, no momento do programa, a convidar o presidente do PRB Ilhéus a dar declarações sobre o partido. Isso me deixou constrangido, eu terminei o programa 10 minutos antes, fui questionado pelo diretor e disse para ele que não tinha o que falar, não tinha argumento porque estava muito pressionado e pedi desculpas. Foi o último diálogo que eu consegui ter com ele na emissora.

DdS – No dia seguinte, quando o Sr. chegou à TV...

Ricardo – No mesmo dia, eu me dirigi até os dirigentes do PSB aqui em Itabuna, ao presidente da Câmara, Edson Dantas, comuniquei o fato e o vereador tentou conversar com o diretor para saber o que havia acontecido. Ele tentou dialogar e, pelas conversas que Dr. Edson teve comigo, o diretor o tratou friamente, dizendo que manda quem pode, obedece quem tem juízo. Aliás, essa é a prática dele, durante o tempo em que esteve à frente da emissora aqui em Itabuna. Na terça-feira pela manhã, eu me dirigi até a emissora e o diretor, que costuma chegar 9h30min, 10 horas da manhã, já estava lá, em reunião com duas funcionárias do jornalismo. Quando elas desciam da reunião, já desciam abatidas e eu já sabia o que era. Ainda assim, fui convidado a ir à sala dele e, quando entrei, ele já veio sorrindo e dizendo: “O Dr. Edson Dantas me ligou. Olha, você está fora, vamos pagar todos os seus direitos”. Eu argumentei: “Mas por que essa demissão dessa forma assim?” E ele: “É aquilo que eu conversei com você, nada mais”. E novamente disse: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, sempre usando essa frase que eu acho muito baixa para uma pessoa que se diz diretor executivo de uma empresa como a TV Cabrália. E aí eu fui comunicado para ir até o RH (Recursos Humanos), onde fui orientado que teria direito a ficar com o celular para me comunicar com as pessoas que conheço, para dar satisfação durante dois dias e, para minha surpresa, assim que saí da emissora, fui bloqueado de falar com todos os meus contatos. Não podia receber e nem originar chamadas, o que me constrangeu mais ainda.

DdS – O Sr. sabia que perderia o emprego caso não cedesse à pressão, ou acreditava que iam voltar atrás para não perder o profissional?

Ricardo – Eu não acreditei que seria essa a forma de desligar um funcionário. Achei que fosse brincadeira , uma vez que a forma que ele usou para me dirigir a palavra foi totalmente ditatorial. Pelo amor de Deus, está na Constituição que o cidadão é livre para escolher partido, credo religioso. Enfim, eu acreditava que ia haver um diálogo, que se tratava apenas de uma pressão, a fim de que eu pudesse aderir ao grupo deles, que é liderado pela prefeiturável Acácia Pinho. Mas não, eles viram também que eu não desistiria da minha filiação por decisão minha e até mesmo por não aceitar esse tipo de afronta. Então, eu sabia que poderia ser desligado, agora não dessa forma. Poderia ter uma outra forma que respeitasse mais o profissional e, sobretudo, o cidadão, coisa que não aconteceu.

DdS – Que outros tipos de pressão política o Sr. sofreu quando estava à frente do Alerta Total?

Ricardo – Eu não poderia falar de nenhum candidato ou pré-candidato e só poderia entrevistar aqueles pré-candidatos que fossem interessantes para a emissora. Ou seja, antes de uma possível entrevista, que eles tivessem uma conversa com o diretor. Eu participava dessas conversas também, em que ele tentava acordos.

DdS – Acordos financeiros?
Ricardo – Também financeiros e eu ficava surpreendido como é que ele tentava esses acordos, uma vez que o PRB é um partido ligado à TV Cabrália. O diretor sempre dizia nas reuniões com a redação que não queria nenhum profissional do jornalismo envolvido com política, nem com nenhum político. Eu sabia que essas afirmações eram diretamente pra mim, coisa que ele não podia fazer diretamente porque seria uma espécie de assédio moral. Mas, ainda assim, ele chegava a declarar que o candidato da TV Cabrália é o Pastor Francisco, o candidato da Igreja Universal, candidato a vereador.

DdS – Que pré-candidatos já participaram dessas reuniões que o Sr. presenciou?

Ricardo – Pré-candidatos a prefeito como Roberto Barbosa, do PP, e o último que nós tivemos contato, e foi fora da empresa, foi com o prefeiturável Capitão Fábio. Fui convidado a ser vice na chapa dele e naquele momento eu recusei a proposta, uma vez que sigo a orientação de um partido. O Capitão, em contrapartida, estaria oferecendo uma ajuda financeira via Ministério da Integração Nacional, inclusive ficou marcada uma reunião com o Ministro Geddel Vieira, em Salvador, e eu garanti ali que não iria participar dessa reunião e que não tinha nenhum interesse em apoiar Capitão Fábio nem qualquer outro pré-candidato no momento. A reunião não aconteceu.

DdS – Essa ajuda financeira a que o Sr. se refere seria dada à emissora após a entrevista do Capitão Fábio?Ricardo – Ele chegou a dar entrevista porque foi simpático ao diretor da empresa, mas numa segunda conversa que tivemos fora da empresa o diretor disse que precisava sustentar a emissora. Portanto, ele (Fábio) teria que dar um suporte financeiro, se quisesse em troca um apoio da emissora. Eu fiquei surpreendido porque ele falava tanto em grupo, falava tanto em rede e parecia ser uma decisão isolada.

DdS – E como o Sr. se sentiu sendo demitido após anos de trabalho e no auge do sucesso?

Ricardo – Entre idas e voltas, estávamos caminhando para o sétimo ano de trabalho na TV Cabrália e eu não fiquei surpreso, porque mais cedo ou mais tarde eu seria desligado, uma vez que não aceitava apoiar nenhum pré-candidato ligado à emissora. Mas a minha surpresa maior foi a forma como fui desligado. Ele poderia usar qualquer outro método, dizer que seria contenção de despesas, que o programa não estava dando certo, mesmo sendo impossível ele me convencer disso, uma vez que o Alerta Total é quem segura o faturamento da emissora. Fiquei surpreso com a forma como fui desligado, a hostilidade, o tratamento, a irresponsabilidade nas palavras e a falta de respeito com o profissional e, sobretudo, com o cidadão Ricardo.

DdS – O Sr. tem idéia de quanto o Alerta Total fatura por mês em publicidade?

Ricardo – Eu não saberia dizer, porque cabe ao departamento financeiro da emissora. Mas, em diversas reuniões com a gente, o diretor disse que o faturamento triplicou com o Alerta Total voltando ao meio-dia, e que o programa estava dando certo. Eu contestava dizendo que tínhamos muito comercial, muito merchandising e isso estava prejudicando a produção do programa e a imagem que chegava até o telespectador. Mas ele disse que não, que o faturamento estava bom e que queria que crescesse mais.

DdS – No fim das contas, o Sr. acabou abrindo mão de um espaço na televisão, um programa líder de audiência. Por quê?

Ricardo – Porque o respeito ao telespectador, a minha paixão pelo povo de Itabuna, o carinho das pessoas, isso é mais forte do que a decisão de permanecer no que ele chama de grupo e que não abriria possibilidades futuras. Porque eu tenho um projeto, esse projeto tem tudo para dar certo, e eu sabia que mais cedo ou mais tarde eles iriam bloquear das piores maneiras possíveis. Mas eles viram também que não adiantava, porque Ricardo Bacelar é diferente de muitos outros que talvez já receberam propostas. Meu projeto é pela minha cidade. Quando eu fazia o Alerta Total, eu fazia pensando nas pessoas que estavam em casa assistindo, que não tinham voz, que queriam falar algo, mas não tinham oportunidade. Então, eu sabia que poderia me dar bem fora da TV Cabrália. Até porque sou acadêmico de Direito, estou me formando esse ano, poderia me sair bem como radialista, ou numa assessoria, enfim, existem diversos campos até mesmo numa outra emissora do grupo Record, ou de outra rede qualquer. Eu recebia propostas de outras emissoras, mas eu entendi que nessa confusão que é Itabuna, na vida social, política, econômica, precisava de alguém que pudesse representar esse povo. Eu preferi agir assim, porque a gente perde aqui para ganhar lá na frente.

DdS – Que projeto político é esse, que tanto lhe move ? Ricardo Bacelar pensa em ser prefeito de Itabuna?

Ricardo – Prefeito é muito cedo porque a história política a gente constrói. Nunca é bom começar de cima, é sempre de baixo, acreditando, levando confiança para as pessoas, recebendo essa confiança. O PSB, do qual faço parte, já tem um pré-candidato definido, que está indo bem nas pesquisas, tem sido bem aceito na sociedade, então eu não poderia querer ser prefeito da noite para o dia. Porque não basta querer ser prefeito, é preciso ter projetos, ter grupos, é preciso transmitir para as pessoas a possibilidade de ser. Mas o partido é quem vai dizer e, sobretudo, as pessoas é que vão dizer se é viável ou não Ricardo Bacelar na política aqui de Itabuna.
DdS – Poderia ser uma candidatura a vereador?

Ricardo – Eu costumo dizer que não quero ouvir somente os políticos, somente os formadores de opinião, mas aquelas pessoas que vivem dia-a-dia os seus problemas sociais, econômicos. Se essas pessoas acharem que Ricardo é alguém que possa representá-las, eu estou disposto a aceitar o que o povo quer, e não simplesmente um projeto pessoal meu ou de um partido político. O que as pessoas acham? Ricardo é um nome que pode ajudar Itabuna, um projeto futuro para o centenário de Itabuna? Eu vou atender o povo, é o povo quem manda.

DdS – Nessas suas andanças, está sentindo que o povo quer sua candidatura?

Ricardo – As pessoas estão um pouco chateadas, tristes pelo fato da gente ter deixado o programa Alerta Total, mas ao mesmo tempo tentam de alguma forma fazer com que Ricardo continue sendo aliado do povo. Então, sugerem que eu saia candidato em diversos cargos políticos, prefeito, vereador. E a gente vai analisando com calma, até porque estamos em janeiro ainda, mas eu tenho certeza que as pessoas terão o seu anseio atendido. Eu tenho um projeto de fazer um programa de rádio para continuar ajudando as pessoas e, até o dia 3 de junho, a gente vai decidir se é viável ou não uma candidatura aqui em Itabuna.

DdS – O Sr. aceitaria ser candidato a vice-prefeito na chapa de alguém? De quem?

Ricardo – A decisão é do partido, não parte somente de Ricardo Bacelar ou do presidente da Câmara, Edson Dantas, parte do grupo. O grupo é quem vai decidir, existem bons nomes no quadro do PSB que poderão futuramente encabeçar uma chapa para prefeito de Itabuna. Vice, esses outros detalhes é que vai ser discutido lá para frente. Mas o PSB hoje tem condições suficientes para lançar um prefeito em Itabuna.

DdS – O PSB, inclusive, tem sondado seu nome nas pesquisas para prefeito e Dr. Edson já disse que o partido não terá problemas em lhe apoiar, caso o Sr. esteja melhor que ele nas pesquisas. Se o PSB quiser que o Sr. seja o seu candidato a prefeito, o Sr. aceita?

Ricardo – A decisão é partidária. Acredito que o que o partido decidir todos os membros irão acatar.

DdS – O Sr. reconhece que o Alerta Total lhe deu uma popularidade que dificilmente conseguiria sem o aparato da mídia?

Ricardo – Sim, porque eu estava todos os dias na casa das pessoas, sobretudo daquelas mais humildes. Eu comecei o Alerta Total não pensando em entrar na política, comecei com o objetivo de mudar a vida dessas pessoas de alguma forma, sei que sozinho eu não ia conseguir. E eu acho que o carinho, o respeito, a simpatia e, sobretudo, ser verdadeiro foi o que fez com que eu conquistasse essas pessoas, porque não é fácil. Tem muitos apresentadores que estão ali com outros objetivos e dificilmente você encontra um que tenha essa vontade de ajudar as pessoas. Quando eu não podia ajudar uma pessoa, eu ficava triste, me sentia impotente.
DdS – Fale um pouco sobre esse programa de rádio que o Sr. fará.

Ricardo – Uma vez que fui desligado da TV Cabrália e do programa Alerta Total, eu busquei ver uma forma de continuar ajudando as pessoas. Então, optei pelo rádio. Estamos com um projeto muito bom, em que iremos ao ar de segunda a sexta-feira, estamos definindo o horário. Toda sexta-feira, com mini-trio, brincadeiras e diversão, vamos estar em cada bairro da cidade, levando para as pessoas a esperança, a certeza de que a vida delas pode mudar a partir de uma programação radiofônica. Aí nós vamos fazer com que a voz do povo não venha a se calar, vamos continuar no rádio, defendendo o povo, fazendo com que as pessoas tenham em Ricardo Bacelar voz. Quero que as pessoas entendam que não é essa questão política que me afastou da TV Cabrália e do Alerta Total que vai me afastar das pessoas de bem dessa cidade. Pelo contrário, ninguém vai calar minha voz, eu vou continuar aliado do povo, porque não aceito jogar sujo.

DdS – No âmbito da política, onde é que o Sr. quer chegar? Tem projetos ambiciosos de chegar a ser senador, governador, algo assim?

Ricardo – Eu digo sempre que a gente tem que sonhar alto. Quando você sonha alto, é porque você tem visão. Se você tem condições de chegar ao topo, por que não acreditar? Mas é claro que isso leva um tempo, você tem que construir esse caminho para chegar até onde quer. Toda pessoa que inicia na carreira política pensa em chegar ao mais alto nível, mas, sobretudo, com determinação, responsabilidade, sem ambição desmedida.

DdS – E o topo para o Sr. é o quê? Senador? Presidente?

Ricardo – No Brasil muda tudo todo dia. Não sei até quando vai existir senador, presidente, prefeito. O topo que eu digo é chegar a um lugar aonde eu teria mais condições de ajudar as pessoas.

DdS – Uma palavra para definir Ricardo Bacelar. Ricardo – Democrático e do povo baiano.

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